Coluna Educação Inovadora

Seis equívocos no ensino remoto

Há um ano temos ministrando aulas no formato remoto e é possível levantarmos equívocos cometidos neste processo. Olhar para 2020 é essencial para uma reflexão de professores, gestores, comunidade e estudantes para compreender aquilo que deu certo e o que não deu certo e criar comissões internas para compreender possíveis casos de evasão escolar.

É certo que a tecnologia é e será uma ferramenta essencial para o processo de ensino-aprendizagem e permanecerá na escola pelos benefícios à Educação; por isso, tecer caminhos para inovação é criar oportunidades para que os estudantes se sintam pertencentes à realidade escolar.

Muitas vezes, quando falamos e pensamos em tecnologia, a primeira coisa que vem à nossa mente são as tecnologias inovadoras às quais temos acesso na atualidade, como notebooks, tablets e celulares. Dispositivos que fazem parte da rotina dos estudantes, professores e seus familiares. Se pararmos para pensar no uso da tecnologia na sala de aula, vamos perceber que são séculos de inovação e adaptação.

Com a experiência do ensino remoto, já podemos falar em alguns equívocos cometidos neste processo e que precisamos rever para continuar avançando. Confira abaixo quais são eles e que caminhos não devemos tomar. Vamos juntos?

1. “Estudantes, abram a câmera”

Um dos equívocos comuns que cometemos com os estudantes é a insistência para que eles abram as câmeras, gerando angústia da participação nas aulas remotas.

É preciso compreender que apesar dos nossos estudantes terem nascido na era digital, a exposição frente ao público é grande para todos e ainda vem cercada de atitudes que precisam ser revistas como o cyberbullying. Desta maneira, a insistência condicionada à participação por nota pode causar um grande desestimulo ao processo educacional e desencadear falta de interesse e abandono escolar dos alunos.

Neste sentido, é necessário que os professores ofertem maneiras diversificadas para que os estudantes possam participar das aulas remotas, como quizzes, mapas mentais e a condução e o acolhimento da abordagem pedagógica.

2. Organização do tempo de aula

No ensino remoto é fundamental a rotina e a organização dos estudos. Realizar prévias do que será visto em aula e otimizar isso através de uma rotina é essencial para que os estudantes possam se planejar.

Uma sugestão é o trabalho com a sala de aula invertida, que auxilia no antes, durante e depois, levando os estudantes a serem protagonistas, mas também curadores de informações, além de ser um benefício para a aula, por otimizar o tempo para debates e reflexões.

3. Trabalhe com o socioemocional

Com um ano de aulas remotas é fundamental o trabalho a partir de habilidades socioemocionais ocasionadas pelo longo período de distanciamento social e convívio presencial com os estudantes. Neste sentido, é essencial manter uma escuta ativa e promover atividades em sala de aula em que os estudantes possam participar e lidar com as diferentes emoções e que se tenha um espaço para expor aquilo que está sentido.

Pode ser realizado um trabalho logo no início da aula, uma roda de conversa, um termômetro de emoções, uma música, uma meditação com exercícios de respiração, entre outras atividades condizentes com a realidade da turma.

4. Professor, seja mediador de conhecimento

O ensino remoto é desafiador para estudantes e professores! É importante que o professor se lembre do seu papel e não cometa equívocos do passado de ser transmissor de conhecimento e sim parceiro dos estudantes, capaz aguçá-los e desafiá-los a resolver problemas de modo que consigam ser criativos e exerçam o pensamento crítico.

5. Evite o uso de ferramentas inadequadas

Esse é um erro comum que acaba acarretando consequências de muitos erros anteriores que comentamos aqui. A escolha por ferramentas digitais nas aulas remotas deve considerar a realidade dos estudantes, uma pesquisa que considere os objetivos pedagógicos e a real necessidade do aprendizado.

As ferramentas escolhidas precisam cumprir o papel de mudar as abordagens pedagógicas, mas também proporcionar interatividade entre os estudantes.

6. Não tornar a tecnologia vilã das aulas

O uso das tecnologias vai além da sala de aula e vista de maneira equivocada pode tornar-se vilã do ensino. Não adianta ofertar tecnologia se ela não vier acompanhada de abordagens inovadoras e que permita que os estudantes reflitam sobre as diferentes situações, opinem sobre algum assunto, conversem e realizem conexões com ambientes reais.

Um abraço e até a próxima!

Sobre o(a) autor(a)

Artigos

Formada em Letras e Pedagogia, com especialização em Língua Portuguesa pela Unicamp, Débora é Mestra em Educação pela PUC-SP e FabLearn Fellow, Columbia, EUA. Professora da rede pública, idealizou o trabalho Robótica com Sucata, que se tornou uma política pública. É coordenadora do Centro de Inovação da Secretaria Estadual de Educação do Estado de São Paulo. Atualmente, assina a coluna Educação Inovadora no blog Redes Moderna e é autora do livro Robótica com sucata (Moderna, 2021).