Este é meu primeiro texto para a coluna Escola Diversa. Estaremos juntos e juntas aqui durante todo ano de 2023 e estou muito feliz em compartilhar com você, leitor, leitora, educadores e educadoras, assuntos tão pertinentes para a educação, ensino e aprendizagem, que acontecem na escola e que reverberam em toda sociedade.
Neste tema de lançamento temos dois elementos centrais e norteadores para a educação: cidadania e diversidade.
Cidadania é o conjunto de direitos e deveres que todo cidadão tem em sua localidade de origem. A cidadania é imprescindível, pois, ao exercê-la, contribuímos para uma sociedade não excludente.
Votar é um exemplo de exercício de cidadania que afeta diretamente a democracia.
Mas e a diversidade? Qual seu papel no processo de exercício da cidadania?
Ora, se o exercício da cidadania é imprescindível para uma sociedade não excludente, para não haver exclusão é imprescindível diversidade pois, é a diversidade que possibilita equidade.
E como podemos, não só trabalhar estes temas na escola dentro de um projeto específico mas de maneira transversal, com aplicação direta e intencional no dia a dia?
Garantir a participação igualitária de todos e todas é um passo fundamental. Será que o poder de decisão na escola tem representatividade e proporcionalidade entre os professores, professoras, alunos, gestão e família?
No período de planejamento, nas tratativas com a Secretaria de Educação, quem participa do grupo de trabalho? Só a direção? A coordenação? Professores? Ou há um olhar para que esta participação seja mais diversa? Um processo de escuta dos estudantes, das famílias e de outras pessoas da escola somam muito.
Será que seus alunos têm alguma ideia de como se dá todo o processo necessário ao funcionamento da escola? Eles e elas têm a oportunidade de uso de seus lugares de fala? Será que para soluções que visam inclusão ouvimos um grupo heterogêneo ou há pluralidade nesta escuta?
Afinal, há uma proporção equânime entre homens, mulheres, pessoas negras e não negras, pessoas com e sem deficiência física nos grupos de trabalho?
Alguns passos importantes de exercício de cidadania na escola, com a efetiva presença de diversidade
- Primeiramente, participação em debates do seu município e do seu estado no que se refere a educação. Estamos na era dos posts nas redes sociais, seja manifestando repúdio ou apoio a determinadas situações sociais. De fato, este é um canal potente mas, existem outras formas, algumas ainda mais eficazes de exercer cidadania e apoiar a educação. Audiências públicas, assinaturas de abaixo assinado e participação em reuniões de gestão são alguns exemplos. Participe, leve o tema para a escola e discuta com a comunidade. Engaje os alunos e alunas. Se a escola é de todos e todas, a responsabilidade também é.
- Em segundo lugar, como sua escola registra as dúvidas, contribuições e denúncias? Há algum meio para isso? Ou a única forma é se dirigir pessoalmente à diretoria para efetuar o registro? Se este é o único meio, temos aí um problema. Afinal, nem todas as pessoas ficarão à vontade para tomar esta iniciativa. Pode estar acontecendo uma série de coisas na sua escola e que a gestão não está sabendo. E até coisas graves e sérias tidas como inexistentes porque ” se ninguém falou nada é porque está tudo bem”. Tenha um bom canal de comunicação. Um meio respeitoso e que preserve a integridade das pessoas. Ter um ambiente seguro e confiável é importante para que as pessoas, quando preciso for, possam trazer seus depoimentos e opiniões de maneira não vexatória ou constrangedora.
- Em terceiro lugar, quem são os parceiros/fornecedores de serviços e produtos da sua escola? Há diversidade? Eles dialogam com a proposta de valor da escola?
- É só no ensino médio que devemos aprofundar as temáticas de diversidade e cidadania? Não! Definitivamente não! É desde a educação infantil. Aliás, desde a creche é possível começar este trabalho. Cuidar do material fornecido pela escola, tampar a tinta para ela não ressecar e deteriorar, ceder a vez ao colega que ficou de fora de uma atividade brincante são alguns exemplos. Ter libras na escola só na turma onde tem alunos surdos também é um péssimo exemplo, um processo excludente, afinal, os estudantes não socializam só dentro da sala e com suas turmas. Eles socializam o tempo todo em todo lugar.
- Por fim, muita atenção: quem cuida do portão da escola, quem prepara a comida, quem limpa a escola, quem cuida da área de compras é tão importante quanto quem está na diretoria. E concordar com isso, mas agir de maneira diferente, só prejudica a educação. Seja coerente!
Livros infantojuvenis para falar sobre o assunto que poderão auxiliar sua escola neste caminho
Malala, a menina que queria ir para a escola
Neste livro-reportagem, a jornalista Adriana Carranca relata às crianças a história da adolescente paquistanesa Malala Yousafzai, baleada por membros do Talibã aos catorze anos por defender a educação feminina.
A repórter traz suas percepções sobre o vale do Swat, a história da região e a definição dos termos mais importantes para entender a vida desta menina tão corajosa. Malala Yousafzai quase perdeu a vida por querer ir para a escola. Ela nasceu no vale do Swat, no Paquistão, uma região de extraordinária beleza, cobiçada no passado por conquistadores como Gengis Khan e Alexandre, o Grande, e protegida pelos bravos guerreiros pashtuns – os povos das montanhas. Foi habitada por reis e rainhas, príncipes e princesas, como nos contos de fadas.
Malala cresceu entre os corredores da escola de seu pai, Ziauddin Yousafzai, e era uma das primeiras alunas da classe. Mas, quando tinha dez anos, viu sua cidade ser controlada por um grupo extremista chamado Talibã. Armados, eles vigiavam o vale noite e dia, e impuseram muitas regras. Proibiram a música e a dança, baniram as mulheres das ruas e determinaram que somente os meninos poderiam estudar.
Mas Malala foi ensinada desde pequena a defender aquilo em que acreditava e lutou pelo direito de continuar estudando. Ela fez das palavras sua arma. Em 9 de outubro de 2012, quando voltava de ônibus da escola, sofreu um atentado a tiro. Poucos acreditaram que ela sobreviveria. A jornalista Adriana Carranca visitou o vale do Swat dias depois do atentado, hospedou-se com uma família local e conta neste livro tudo o que viu e aprendeu por lá. Ela apresenta às crianças a história real dessa menina que, além de ser a mais jovem ganhadora do prêmio Nobel da paz, é um grande exemplo de como uma pessoa e um sonho podem mudar o mundo.
Contos Piraporianos
Em Contos Piraporianos , três histórias prometem atiçar a nossa imaginação. A primeira é a história de dois gatos. Um vive num mundo onde só existe dia. O outro vive num mundo onde só existe a noite. Mas um dia, cansados das mesmices, os gatos resolvem atravessar a barreira do tempo e mudam de lado. Assim, logo reconhecem as belezas trazidas por este novo olhar.
E assim nasce o mundo tal qual conhecemos hoje, onde dia e noite compartilham o mesmo mundo. A segunda história é sobre uma menina que passeia por lugares já conhecidos, porém, com um despertar das belezas ainda não vistas. Kauara leva a menina a uma viagem pelas cores, pela história e pelos sons. E reconhecendo sua própria beleza a menina começa então a enxergar as belezas que estão a sua volta. E tem também a história de Zabeleu. Um menino que vê tudo de cabeça para baixo. Irritado ele assopra, assopra, assopra…para que tudo fique no lugar que ele deseja. Mas nada adianta. Até que ele decide olhar do mesmo lugar onde estão as coisas que o incomodam.
Família de todo jeito
De janela em janela, uma curiosa menina faz uma observação: no prédio em frente ela pode encontrar famílias de montão! Ela percebe várias combinações. Tem famílias grandes, pequenas, coloridas, com dois papais ou com duas mamães! Mas a menina, esperta que só ela, repara o que todas têm em comum: vivem com muito amor!
O que é preciso pra ser rei?
Mas, afinal, o que é necessário? Uma herança? Uma coroa? Um castelo? Ou será que, além disso, é preciso também sabedoria, empatia, compaixão? Essas perguntas, que vão se sobrepondo ao longo da narrativa, vêm acompanhadas de pequenos conselhos sobre os quais podemos refletir, como a importância de saber partilhar ou o valor de ouvir e procurar compreender quem pensa diferente de nós. Além disso, as ilustrações, carregadas de elementos líricos, dialogam com o texto de uma maneira encantadora e poética. Os detalhes enriquecem a leitura e propiciam várias surpresas visuais que complementam a narrativa. Por fim, é um livro capaz de encantar leitores de todas as idades.
Te espero aqui mês que vem!
Porque este encontro não acaba nem aqui nem lá. Este encontro ainda tem muito para contar. E eu, que já estou indo embora, te encontro já já!
Janine Rodrigues
Escritora, educadora Fundadora da Piraporiando