A matemática, frequentemente temida por muitos estudantes, é uma das áreas do conhecimento mais fundamentais para o desenvolvimento do pensamento lógico, da resolução de problemas e da autonomia intelectual. No entanto, apesar de sua importância, o ensino ela ainda enfrenta grandes desafios nas escolas brasileiras.
De acordo com dados do SAEB 2021, apenas 5% dos estudantes brasileiros do 9º ano alcançaram níveis adequados de aprendizagem em matemática. Tal cenário revela não apenas dificuldades de compreensão, mas também uma desconexão entre os conteúdos trabalhados em sala de aula e as experiências reais dos discentes.
Nesse contexto, surge o conceito de Matemática Significativa, uma abordagem que valoriza a construção de sentidos e significados a partir da realidade do estudante. Uma das principais estratégias para atingir esse objetivo é o Ensino Baseado em Problemas (EBP), que propõe desenvolver o conhecimento matemático a partir de situações-problema contextualizadas, estimulando o raciocínio, a criatividade e a colaboração.
Por que ensinar com base em problemas?
O ensino baseado em problemas propõe a resolução de desafios que envolvem conceitos matemáticos e partem de contextos reais e relevantes. Diferentemente do ensino tradicional, que frequentemente foca na memorização de fórmulas e procedimentos, essa abordagem coloca o indivíduo no centro do processo de aprendizagem, como protagonista e investigador.
Estudos indicam que estratégias ativas como o EBP contribuem para aumento de até 30% na retenção do conteúdo, segundo pesquisas do Center for Instructional Innovation da Universidade de Washington.
Além disso, enfrentar problemas reais permite que os estudantes compreendam o porquê de aprender matemática, desenvolvendo habilidades como autonomia, argumentação, planejamento e tomada de decisões. O ambiente se torna mais dinâmico, e o erro passa a ser visto como parte do processo de aprendizagem, favorecendo o pensamento crítico.
Estratégias práticas para educadores
Para aplicar o ensino baseado em problemas na matemática básica, algumas estratégias simples e eficazes podem ser adotadas:
- Problemas contextualizados: Traga situações reais da comunidade escolar, como calcular o consumo de água de uma casa ou planejar a organização de um evento. Esses desafios despertam o interesse dos estudantes e mostram a aplicação direta da matemática no cotidiano.
- Trabalho em grupo: Incentive a resolução colaborativa, a partir da qual os estudantes discutem e compartilham estratégias diferentes para solucionar um mesmo problema, promovendo o desenvolvimento de múltiplas formas de pensamento.
- Exploração de materiais concretos: O uso de jogos, dobraduras, blocos lógicos, entre outros recursos, ajuda na visualização e na compreensão de conceitos abstratos.
- Uso da tecnologia: Plataformas como GeoGebra, Khan Academy e softwares de simulação matemática tornam o aprendizado mais interativo e significativo.
- Avaliação formativa: Valorize o processo, e não apenas o resultado. Questione os caminhos escolhidos pelos estudantes, estimule a justificativa das respostas e ofereça feedback (retornos) constante.
Implementar uma abordagem baseada em problemas exige que as escolas mudem a cultura institucional, tanto na formação dos professores quanto na organização do currículo. Muitos professores dizem que não têm tempo para planejar, enfrentam a falta de materiais e lidam com a pressão por resultados em avaliações padronizadas.
Ainda assim, pequenas mudanças conseguem gerar grandes impactos. Ou seja, investir em formação continuada, trocar experiências com outros educadores e criar comunidades de prática são caminhos possíveis e eficazes para sustentar essa transformação.
Aplicar matemática significativa é promover uma educação que forma cidadãos críticos, criativos e preparados para os desafios do mundo contemporâneo. Como afirmou Paulo Freire, “ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua produção”. E o ensino baseado em problemas é, sem dúvida, uma dessas possibilidades.
Um abraço e até a próxima!
