Coluna Escola Diversa

Diversidade na curadoria literária

Olá pessoal! 

Espero que estejam bem! Este é meu último artigo do ano e, quando pensei em qual tema escolher para falar com vocês, logo me veio este sobre a curadoria literária e a importância da diversidade num momento como este.

Meu propósito é que depois de ler este texto você possa ter mais ideias e posicionamentos para a escolha dos livros do próximo ano (ou deste ano ainda, se der tempo) pois, mesmo que se tenha muito boa vontade, não é incomum fazer escolhas baseadas em estereótipos que reforçam preconceitos. 

Por isso compartilho aqui com vocês 6 coisas para se pensar na hora de escolher a obra literária para trabalhar com sua turma!

Como as meninas são apresentadas?

Todas as pessoas deveriam poder estar nos espaços que elas quiserem. Assim como não há problema algum em meninas serem apresentadas de rosa e vestidas de princesa, também não há problema algum em meninas de azul, brincando de carrinho, querendo aprender a consertar a bicicleta em vez de aprender a fazer bolo. Certa vez uma mãe, empenhada em a filha ter mais acesso a conteúdos diversos me disse que não ia mais deixar a filha ver filmes como o da princesa Frozen. E eu perguntei, alarmada, porque?? E disse a ela que a Frozen é linda. 

O problema não é ver Frozen. O problema é só ver Frozen e achar que toda beleza é branca, loira, magra e que tudo um cenário de beleza é aquele que tem gelo. 

É a diversidade de repertório que nos ajuda a conhecer o mundo nas suas mais plurais possibilidades.

Há presença de personagens considerados ”fora do padrão”?

Confesso que mesmo quando coloco a expressão fora do padrão entre aspas, ainda assim tenho profundo incômodo. Porque padrão é algo completamente antinatural quando falamos das pessoas, suas vidas, suas histórias, estéticas etc. 

Mas então, como são os personagens dos livros? Repetem caricaturas sociais ou são diversos?

A presença de autores negros e não negros é equilibrada?

É importante ter livros com personagens negros. Mas além disso, quais e quantos tem autores negros? Você já pensou que autores negros sempre tiveram muita dificuldade de publica? E que em determinado momento algumas pessoas não negras  se viram interessadas no assunto e começaram a publicar livros, principalmente infantojuvenis, com personagens negros? Esta conduta colabora para que muitos autores negros continuem com dificuldades de publicas. 

Não há, necessariamente, problema em uma pessoa não negra publicar livros com personagens negros. A questão é a intencionalidade e a resposta do “porque agora” ser genuinamente boa. Caso contrário, se trata somente de manter privilégios. Então, quando escolher livros, veja quantos são de autores negros e de autores não negros. O mesmo para autores indígenas. 

Em que lugar está a criatividade?

Acho que já contei essa história… Mas vou repetir. Certa vez uma professora disse que corrigiu o desenho de seu aluno porque ele usou verde para pintar o céu. 

Quando ele viu o azul passado por cima do verde disse: ”Meu céu estava meio verde sim, acho que foi por causa das claridades do sol que não conseguiam passar direito nas nuvens fininhas.” 

Esse é o poder que a arte tem. Está para além do concreto, além daquilo que todos vemos igual. Esse menino (de seus 7,8 anos) fez poesia no desenho e depois, ao responder a pergunta, fez outra. 

Há equilíbrio entre o regional e o que é de outros territórios?

Que delícia são as histórias de outras cidades, de outros países. E que sentimento maravilhoso de pertencimento nos dão as histórias da nossa gente, do nosso chão.

Livros com temas que ainda são tabus são evitados?

Se você respondeu que sim, que evita temas polêmicos e tabus, quero te dizer que isso é motivo de preocupação. Veja que não estou dizendo que você não deve analisar criticamente um assunto e trazer qualquer coisa para a turma. Mas ao mesmo tempo, sabemos que a escola é um núcleo da sociedade. 

” Ah, Janine, mas eu não acho que é papel da escola falar sobre…”  Já te digo que é papel da escola falar do que fala o mundo, do que falam os alunos e alunos, do que fala a vida. 

Com responsabilidade e senso crítico, traga sim assuntos que podem ajudar a abrir as perspectivas deles e delas. Atitudes assim vão cooperar para que eles pensem sobre coisas que, às vezes, não estão no seu dia a dia. 

E para os gestores deixo aqui uma convocação para que apoiem seus professores e professoras nisso. Sabemos que os conflitos acontecem mas, a escola é espaço de pensamento político. De posicionamento. 

Para concluir quero dizer que foi um prazer estar com vocês mais um ano! Espero que nos encontremos ano que vem para mais trocas. Obrigada pelo afeto, aprendizados…

Sobre o(a) autor(a)

Artigos

Formada em Gestão Socioambiental, com especialização na mesma área pela UFRJ, Janine Rodrigues começou a escrever aos 8 anos de idade e hoje, além de escritora, é educadora e fundadora da Piraporiando, uma das 10 Edtechs mais importantes da América Latina. A Piraporiando é voltada à Educação para a diversidade e desenvolve experiências e conteúdos antirracistas, antibullying, antipreconceito e de promoção da equidade de gênero. Eleita pela Forbes como uma das 12 pessoas negras mais inovadoras, Janine trabalha pela qualidade da educação no Brasil e, atualmente, assina a coluna Escola diversa no blog Redes Moderna.