Quem frequenta os supermercados já se deu conta da carestia. Desde o início da pandemia, o preço dos alimentos subiu em média 15%, quase o triplo da inflação no período. Entre fevereiro e outubro do ano passado, o arroz subiu mais de 70% e o feijão, mais de 66%. Estão aí dois carros-chefe da alimentação que começam a faltar na mesa dos brasileiros.
“Nos últimos três meses, os alimentos acabaram antes que os moradores deste domicílio tivessem dinheiro para comprar mais comida?”
No final do ano passado, essa foi uma das oito perguntas feitas pelos pesquisadores para saber qual o grau de segurança ou insegurança alimentar dos brasileiros.
O estudo “Efeitos da pandemia na alimentação e na situação da segurança alimentar no Brasil”, realizado por um grupo de pesquisadores da Universidade Livre de Berlim, na Alemanha, em parceria com a Universidade Federal de Minas Gerais e a Universidade de Brasília, mostrou que em 15% dos domicílios há privação de alimentos e fome. Os dados apontam que a insegurança alimentar já é realidade em mais da metade dos lares brasileiros, o que significa que 125,6 milhões de pessoas não se alimentaram como deveriam ou não tinham certeza de ter acesso à alimentação durante a pandemia.
Os números desse estudo são superiores e mais alarmantes que os dados da Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional, apresentados no início de abril, revelando que nos últimos meses do ano 116,8 milhões de brasileiros tiveram algum grau de insegurança alimentar e 19 milhões de brasileiros passaram fome no último trimestre de 2020.
Que país é esse?
Para um país que já foi referência mundial no combate à fome, voltamos várias ‘casas’ nesse jogo.
A alta do desemprego na pandemia e a redução do auxílio emergencial pode levar o Brasil de volta ao Mapa da Fome, o levantamento feito e publicado pela Organização das Nações Unidas sobre a situação global de carência alimentar, do qual estávamos afastados desde 2014.
O que tem feito a diferença são as ações de solidariedade. Nas redes sociais não faltam exemplos de iniciativas e projetos da sociedade civil para ajuda humanitária.
Tem Gente Com Fome é uma dessas campanhas, iniciativa da Coalizão Negra por Direitos, que conta com apoio de movimentos sociais e ONG’s como Anistia Internacional, Oxfam Brasil e Instituto Ethos.
Em São Paulo, o padre Júlio Lancelotti, coordenador da Pastoral do Povo de Rua da arquidiocese paulistana, continua seu trabalho incansável de proteção aos marginalizados da sociedade.
O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) já doou mais de 3 mil toneladas de alimentos desde o início da Covid-19.
A Ação da Cidadania, fundada em 1993 pelo sociólogo Herbert de Souza, o Betinho, e uma das referências no combate à fome no Brasil, lançou nova campanha para arrecadar e distribuir alimentos para as “vítimas econômicas da pandemia”.
O programa Mães da Favela, idealizado pela Central Única das Favelas (CUFA) criou um ‘vale-mãe’ para auxiliar as mães solos a enfrentarem esse momento crítico.
Porque “quem tem fome, tem pressa”, como dizia o Betinho!
Vídeo da campanha Tem Gente com Fome:
Discussões em classe
No meu livro Já pra mesa! Vamos falar sobre alimentação? abordo a questão da fome no mundo, do desperdício de comida e do lugar que o Brasil ocupa no volume de alimentos jogados no lixo a cada ano.
Professor ou professora, nesses tempos de pandemia e com tanta gente passando fome, vale a pena envolver os alunos na discussão do tema e ajudá-los a fazer perguntas e a encontrar respostas para os problemas brasileiros.
Como reduzir a insegurança alimentar no Brasil?
Por que em 2014 o país saiu do Mapa da Fome?
Que decisões políticas contribuíram para chegarmos a esse quadro desolador?
Essas e outras questões de que trato neste artigo podem ser um bom início de conversa.
Coleção Informação e Diálogo
A coleção Informação e Diálogo trata de temas atuais, que estão em discussão na mídia e que, com certeza, renderão um bom diálogo e uma proveitosa troca de ideias entre os jovens de 11 a 14 anos. Livros em formato de Almanaque que usam e abusam de hipertextos com o intuito de oferecer ao jovem um conjunto de temas que possam ser discutidos e compartilhados entre os colegas de escola, amigos e também na família, despertando o seu interesse e estimulando-o a prosseguir a pesquisa iniciada por meio da leitura.
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