Para começar a tratar desse assunto, devemos lembrar que, dentro do compromisso com a formação integral das crianças e dos jovens brasileiros, a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) estabeleceu dez Competências Gerais que devem ser desenvolvidas ao longo da Educação Básica. A Competência Geral 8 é aquela relacionada ao autoconhecimento e ao autocuidado.
Vamos recordar a redação completa dessa Competência Geral:
A redação dessa competência aponta para diferentes aspectos envolvidos no autoconhecimento e no autocuidado – todos eles com potencial para impactar o desempenho dos alunos nas aulas de Língua Portuguesa. Quantas vezes, por exemplo, você não deparou com jovens de baixa autoestima, que não confiam na própria capacidade de escrever um bom texto ou de apresentar-se diante dos colegas? Essa dificuldade com a auto-apreciação acaba levando a profecias autorrealizáveis: ao não confiar na própria capacidade, os jovens não se envolvem o suficiente com as tarefas e, no fim, acabam tendo, de fato, um desempenho insatisfatório – o que só realimenta o ciclo de autodepreciação.
Outro aspecto importante são as relações interpessoais. Note que a redação da Competência Geral 8 não focaliza somente o eu, mas também o outro: o jovem deve compreender-se dentro da diversidade humana, respeitando as diferenças, além de reconhecer as próprias emoções e as dos outros. Trata-se, portanto, não só de autoconhecimento, mas também de empatia. O desenvolvimento dessa competência ajuda, assim, a combater o bullying e outras atitudes de intolerância ou violência que prejudicam o andamento das suas aulas.
Confira, a seguir, 5 estratégias que você pode adotar, no dia a dia, para ajudar seus alunos a desenvolverem a Competência Geral 8.
Crie rotinas de autorresponsabilidade e autoavaliação
Ao começar uma sequência didática, seja transparente com a turma sobre os objetivos de aprendizagem previstos e o que eles precisam fazer para alcançá-los. Se a ideia é, por exemplo, ler o romance Memórias póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis, para depois produzir um podcast literário sobre ele, lembre aos alunos que eles vão precisar:
- estabelecer um cronograma de leituras e ater-se a ele;
- cooperar com os colegas na produção do podcast, dividindo tarefas e cumprindo com os combinados;
- tomar iniciativa para suprir lacunas em seus conhecimentos – se eles não souberem, por exemplo, como utilizar determinada ferramenta do aplicativo de edição de áudio, devem procurar tutoriais e aprender por si mesmos.
Quando terminar a sequência didática, envolva os alunos na avaliação. Você pode fazer um questionário eletrônico com perguntas ligadas a cada um dos objetivos de aprendizagem estabelecidos inicialmente. Nas perguntas, considere não só a construção dos conhecimentos, mas também aspectos atitudinais – questione se eles consideram que foram responsáveis, autônomos, cooperativos, empáticos com os colegas.
Invista nas habilidades que propiciam o desenvolvimento da CG8
No Ensino Médio, as habilidades de Língua Portuguesa mais diretamente envolvidas no desenvolvimento da Competência Geral 8 são as do campo da vida pessoal – em especial as habilidades EM13LP19, EM13LP20 e EM13LP21 – e as do campo artístico-literário – em especial a EM13LP46 e a EM13LP51 –, além da habilidade EM13LP28, ligada ao campo de práticas de estudo e pesquisa.
Ao planejar suas aulas para abordar tais habilidades, inclua pontos em que os alunos sejam levados a falar explicitamente de si: suas trajetórias de vida, seus gostos e interesses, sua apreciação de objetos culturais, suas estratégias de estudo. Para evitar a exposição dos jovens, essas atividades podem ser realizadas individualmente ou em duplas.
Quando os alunos falarem de seus gostos e interesses, estimule-os a justificarem seus posicionamentos de forma progressivamente madura e elaborada. Por exemplo, em vez de dizer “Gosto de comédias românticas porque são legais”, o objetivo é que digam algo como “Gosto de comédias românticas porque elas passam uma imagem otimista da vida e dos relacionamentos, e isso me reconforta”.
Relacione as leituras, sobretudo as literárias, às emoções dos estudantes
Romances, contos, crônicas e relatos pessoais são gêneros que podem proporcionar a análise psicológica dos personagens (ou das pessoas que relatam suas experiências) e, com isso, favorecer o conhecimento de si e dos outros. Pergunte aos alunos o que fariam se estivessem no lugar de determinado personagem, como acham que se sentiriam.
Textos literários produzidos em outras culturas e temporalidades são especialmente interessantes para que os alunos reconheçam, de um lado, a diversidade de vivências e bagagens culturais e, de outro, a incrível semelhança da experiência humana – os afetos, as angústias, os medos, as esperanças, enfim, tudo que nos torna humanos em qualquer época, em qualquer lugar. Tanto na literatura clássica como na contemporânea há exemplos de autores e autoras que, com maestria, nos fazem adentrar a alma dos personagens e, assim, ampliar nosso repertório emocional. Machado de Assis, Raul Pompeia, Clarice Lispector, Conceição Evaristo, Mia Couto… são apenas alguns dos nomes que podem ser citados.
Estimule os estudantes a nomearem suas emoções e compartilharem vivências
Nos lares e nas famílias, nem sempre é um hábito conversar sobre o que se sente. Em consequência disso, muitos jovens crescem com dificuldade para falarem de si. O componente Língua Portuguesa pode dar uma contribuição especial no desenvolvimento dessa habilidade ao prover os alunos com um amplo vocabulário de emoções.
Proponha atividades em que eles explorem sinônimos relativos a emoções e atitudes, selecionando os mais adequados a cada situação e explicando as nuances de sentido entre eles. Qual é, por exemplo, a diferença entre uma atitude provocadora e uma atitude hostil? Qual é a diferença entre sentir-se surpreso, perplexo ou confuso?
A produção de relatos, crônicas e outros gêneros em 1ª pessoa também estimula a identificação das próprias emoções e atitudes. Você pode propor, ainda, a criação literária como uma forma de autoexpressão, por meio de fanfics ou poemas em que os jovens possam extravasar as emoções sem expor-se diretamente.
Incentive o apreço e o cuidado em relação ao próprio corpo – e ao do outro também
Como vimos, a Competência Geral 8 tem uma dimensão física. Ela inclui aspectos relativos à saúde física, bem como ao conhecimento, cuidado e apreço em relação ao corpo. Esse respeito pelo corpo estende-se também ao corpo do outro, especialmente aquele com características diversas das suas. Nesse sentido, o desenvolvimento da Competência Geral 8 implica o acolhimento das diferenças e a rejeição a qualquer tipo de intolerância, seja ele manifestado na forma de bullying ou de capacitismo (contra pessoas portadoras de deficiência).
A área de Ciências da Natureza tem importantes contribuições a dar para o desenvolvimento da Competência Geral 8, ao proporcionar aos estudantes a aquisição de conhecimentos sobre o corpo humano. Já na área de Linguagens, em especial no componente Língua Portuguesa, é possível estimulá-los a usar as linguagens para expor informações relevantes, defender pontos de vista, enfim, agir na sociedade em favor da saúde física e do respeito ao corpo.
Veja algumas das produções que você pode propor à sua turma, como pontos de culminância em suas sequências didáticas:
- uma cartilha de higiene e saúde voltada especialmente para jovens;
- um artigo de opinião discutindo os padrões corporais disseminados nas mídias sociais;
- uma campanha digital contra o capacitismo;
- uma reportagem de divulgação científica sobre a importância do sono para os adolescentes.
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