Coluna Olhares

Planejamento pedagógico: projetos para o ano letivo

O planejamento pedagógico é uma etapa fundamental do processo de ensino. Por isso eu pergunto: o que você tem planejado para que esse ano seja de muito aprendizado para os estudantes?

De início temos as reuniões de planejamento do ano, com nossos pares, com Gestores e Equipe Pedagógica, traçando os rumos do novo ano letivo.

É comum nas escolas nesse primeiro momento o debate sobre como está o aprendizado da escola como um todo. O desempenho na aprendizagem das turmas, os índices, os dados revelados em avaliações internas e externas, que devem guiar o planejamento. As vezes os ânimos se esquentam, o debate fica acalorado, mas isso faz parte dessa construção coletiva e colaborativa, do pulsar da escola viva, onde o objetivo de todos nós educadores, é que os alunos avancem. Por isso, damos sempre o melhor em nossa profissão, mesmo quando durante o ano, as coisas se tornem mais difíceis e cansativas.

E nesse sentido vão sendo tomadas as decisões, em ações onde o foco é o avanço na aprendizagem dos estudantes. Assim vamos repensando o nosso fazer pedagógico, analisando o que vem dando certo, tanto em sala de aula, como na escola como um todo, ajustando o que foi feito no ano anterior, mas que poderia ser melhor e o que vamos experimentar, inovar, em metodologias, práticas pedagógicas e atividades com os alunos.

Por isso, compartilho com vocês, professoras e professores, gestores e coordenadores pedagógicos, dois projetos que tive a oportunidade de participar vivenciando experiências muito bacanas em educação, para contribuir  e inspirar  o planejamento de vocês nas escolas.

São projetos que podem ser realizados por toda a Rede, ou sua escola, ou em turmas, ou segmentos, dentro de áreas que infelizmente ainda temos fragilidades, na Língua Portuguesa e Matemática.

Em matemática

Por alguns anos participei com meus alunos, do 5º ano, da “Jornada de Matemática”, um Projeto superespecial da Rede Estadual de Educação de São Paulo. A Jornada acontecia num modelo de concurso, em fases: Fase Escola, Fase Diretoria de Ensino e Fase Semifinal de Polos, quando os finalistas concorriam na Fase Final Estadual em São Paulo. Os alunos participavam em todas as fases, de desafios matemáticos envolvendo as habilidades relacionadas a cálculos (cálculo mental e escrito, exato e aproximado e as relacionadas à resolução de problemas.

Os alunos curtiam muito toda a dinâmica de competição da Jornada Matemática, mas penso que o melhor e efetivo para o aprendizado, era todo estudo, trocas de hipóteses e saberes, e o trabalho em equipe, de cooperação entre eles, oportunizadas em todas as fases. Para o desenvolvimento da Jornada, era disponibilizada um material no formato impresso e digital, com os desafios matemáticos para todos.

Minha sugestão então, inspirada por essa Jornada, é uma Jornada Matemática, que explore principalmente as habilidades ainda não desenvolvidas e ou as não consolidadas pelos alunos ou seja, os pontos de fragilidade revelados nas avaliações, da Rede, ou especificamente da Escola. Mas não necessariamente que seja em formato de competição, mas sim como um momento, em que todos os estudantes, de qualquer ano, possam participar de situações de aprendizagem, em fases que explorem as habilidades necessárias para a aprendizagem, sem esquecer do caráter lúdico e colaborativo que devem ser contemplados. Por exemplo, um desafio matemático que os alunos gostavam muito da Jornada do Estado de São Paulo, era o do “STOP de Operações”, os “BINGOS” – explorando diferentes operações. Formatos lúdicos e divertidos de se estudar e desenvolver habilidades matemáticas.

Os professores, com as devidas orientações e formações, oferecidas por coordenadores e ou equipe pedagógica nos horários destinados ao estudo em sua Rede, podem criar um banco de desafios matemáticos a partir do currículo e das habilidades levantadas, levando em conta os níveis graduais de complexidade, tarefas que tragam evidências do desenvolvimento das habilidades. Pode-se fazê-lo com apoio do livro didático, do material de Jornadas de outras Redes, entre outros recursos.

A Rede e Gestores, cabe todo o planejamento, organização e ações que apoiem e facilitem todo o desenvolvimento da Jornada Matemática, incluindo a avaliação, para a compreensão se houve avanços no desenvolvimento das habilidades, e de como foi a Jornada como um todo.

 E quantas possibilidades de organização e realização! Já pensou? Uma Jornada para 1º e 2º anos, na alfabetização. Uma Jornada só de Resolução de problemas. São muitas as possibilidades. Pode-se realizar uma vez ao ano, como em São Paulo, duas vezes incorporado como atividade permanente da escola, uma vez por semana ou no tempo possível e adequado a Rede e ou escolas.

Outros formatos de projetos assim são de Olimpíadas Matemáticas, mais indicadas para toda Rede de Ensino, e as Gincanas matemáticas, para escolas, ou para o desenvolvimento em turmas menores.

Aqui links, do material de São Paulo e da Rede Municipal de Curitiba, com suas Jornadas Matemáticas e o da Olimpíada Mirim-OBMEP (acesse a aba Material Didático).

Leitura para todos!

Leitura para todos!

A Rede de Salto de Pirapora, no interior de São Paulo, realiza um projeto muito especial chamado “Leiturança”. Todas os estudantes da Rede Municipal, recebem, ao longo do ano letivo, doze (12) livros de literatura infantil, até mesmo as crianças das creches, um a cada mês. O Projeto surgiu da necessidade de incentivar os alunos a desenvolverem o gosto em ler, para o desenvolvimento do comportamento leitor e das habilidades relacionadas a leitura, além de trabalhar as competências socioemocionais a partir das temáticas que se encontram nas histórias. Tudo isso para o avanço da aprendizagem e para contribuir no desenvolvimento integral das crianças, adolescentes e jovens.

Destaco também dois pontos muito importantes, incorporados nesse projeto:

  • O acesso à cultura e as fontes culturais, como direito fundamental.
  • Alteração na LDB – Diretrizes e Bases da Educação (Lei 9.394, de 1996), com a   Lei nº 14.407, de 12 de julho de 2022. em que incluíram o compromisso da educação básica com a alfabetização plena e a capacitação gradual para a leitura. A nova lei define a leitura como prioridade na educação básica.

Por isso a importância da implantação e desenvolvimento de um Projeto como esse, “Leiturança”.

Voltando ao Projeto, para cada livro, os professores da turma planejam ações em atividades diversificadas, em diferentes formatos e propostas, todas tendo como ponto de partida a leitura do livro do mês. Há um cuidado importante no planejamento, pensando em Rede, a definição do calendário de leituras, onde são definidos qual livro será lido no determinado mês. Assim, por exemplo, todos os alunos do 1º ano, lerão o mesmo livro no período. Se ele mudar de escola dentro da Rede, não haverá problemas em falhar alguma leitura ou se repetir o livro que já foi lido na escola de saída.

E é incrível o que vem acontecendo! São rodas de leitura, rodas de conversa, leituras compartilhadas, encenações das histórias, exploração oral e escrita para compreensão leitora, cantorias relacionadas as histórias, desenhos e brincadeiras, indicações literárias, entre tantas e muitas outras atividades. Uma combinação entre diferentes práticas de linguagem, ludicidade, participação ativa dos estudantes e aprendizado, que vem sendo validado nas avaliações de leitura do município.

Ao final do mês, o estudante, depois de toda a exploração do livro em sala de aula, leva o livro para casa, como seu, sem devolução. Assim, além da rotina permanente de leitura nas escolas, as famílias também têm acesso ao mundo dos livros, onde muitas vezes esses são os primeiros exemplares  de literatura que adentram os lares dos estudantes, onde todos podem  se envolver e desenvolver o prazer e hábito em ler.

Na finalização do ano letivo, todas as escolas apresentam em um grande encontro, em formato de Mostra Cultural, o que de melhor fizeram com seus estudantes na leitura desses livros, é a culminância de muita aprendizagem.

 Projetos assim, que chegam a todos estudantes, a curto e médio prazo, podem impactar positivamente gerações de todo município.

Gostaram? Dois projetos incríveis e inspiradores, para começar o ano letivo da melhor maneira possível, com muita vontade de fazer a educação acontecer e promover o aprendizado dos nossos estudantes! Então, vamos lá, mão na massa e um ótimo planejamento para todos.

Um abraço e até a próxima!

Sobre o(a) autor(a)

Artigos

Professora há quase 30 anos, lecionou em vários segmentos, da Educação Infantil ao 5º ano do Ensino Fundamental, passando também pela Educação de Jovens e Adultos (EJA). Recebeu o Prêmio Educador Nota 10, na área de Alfabetização, com o projeto Escrevendo com Lengalenga. Atualmente, assina a coluna Olhares no blog Redes Moderna.